top of page
Post: Blog2 Post
Buscar
Foto do escritorEgizele Mariano

Antônio da Silva: Relatos de Vida

RELATOS DE VIDA: ANTÔNIO DA SILVA


Dia 15 de outubro de 2018, entrevista realizada com o Senhor Antônio da Silva, da etnia Terena, nascido no dia 22 de abril de 1947, residente na aldeia Jaguapiru, filho do Senhor Ramão Silva, etnia Terena e Doralina Machado Silva, etnia Guarani, hoje ambos falecidos; Seu pai faleceu aos 55 anos, muito jovem em um acidente na roça; O objetivo da entrevista, era de adquirir informações sobre o processo histórico da Reserva, para análise dos fatos relatados nos livros e documentários;

Aos 71 anos de idade, o Senhor Antônio dispõem de uma ótima memória nas quais relatou muitas recordações sobre a Reserva Indígena de Dourados: Francisco Horta Barbosa; Iniciou a sua fala relatando que aos 7 anos de idade, quando passou a entender as coisas, seus avós residiam próximo ao Senhor Fermiano Machado, um lugar muito lindo, com um córrego ao fundo e muitas matas, os córregos eram limpos e naturais, a reserva era mata fechada indagou, descreve com muito prazer, como a reserva era tomada por matas, as estradas eram “picadas” só havia uma estrada principal, que iniciava no córrego Jaguapiru, passava próximo a Residência do Senhor Raul saindo na Pedreira, na qual iria para Itaporã;

Recorda da professora Maria Luiza, que atravessava a picada em um cavalo branco, para lecionar na escola Farinha Seca, frisou que seus avós já residiam na reserva antes da demarcação, assim como outras famílias Kaiowá e Guarani, a maioria residiam na área chamada hoje de Bororó, seus avós são nascido e criados na reserva, discorda quando abordam que o terena invadiu a área do Guarani Kaiowá, pois disse que seus avós estão enterrados em um antigo Cemitério, próximo onde eles residiam, um lugar na qual nasceram, viveram e foram enterrados, da mesma forma outras famílias já residiam aqui; “Era um território lindo de se ver, vivíamos da caça, a comida era assada e cozida, tudo era preparado com amor, recorda quando a sua mãe preparava biju, sopa de mandioca, canjica salgada com puchero”, adoravam sair para caçar, não precisava ir longe, havia muitos animais, tatu, capivara, “a terra era viva”, sua avó preparava bacucu assado, uma fruta colhida na mata igual ao coco da bahia, hoje não se encontra mais, era muito bom, como também batata assada, chipa, o arroz era socado no pilão a comida era preparava no fogo a lenha as panelas eram penduradas na Maria Chiquinha um tipo de armação, comiam cará do mato, havia muitas frutas, principalmente guavira;

As roupas eram improvisadas de saco de estopa branco, sua mãe furava do lado e fazia um blusão, chinelo era luxo, chamado pé de cachorro, uma loninha na cor azul ou verde, amarrado de piola, ou uma prancha de pneu, faziam muito tamanco de madeira, as camas eram feitas de cipó preto, que era sapecado para permanecer resistentes, era revestido com uma capa de bolsa de linha, com o mesmo cipó faziam artesanatos e uma espécie de cesto para carregar as crianças ou alimentos trazidos da roça eram muito resistente, disse que na mata ao lado de sua residência há esse tipo de cipó e se ainda tiver uma oportunidade irá fazer uma demonstração, pois é um artesanato muito lindo, os colchão era feito de palha, era muito confortável, as casas eram de sapé e madeira e taquara, a produção de roças eram pequenas, viviam mais da caça , mais quem cultivava plantava de tudo um pouco, mandioca, milho, arroz, abóbora milho saboró, havia muita erva, as casas dos Kaiowá eram grandes de sapé, cheias de redes com uma fogueira no centro, relatou que naquela época não havia intrigas, os kaiowá, guarani e terena eram amigos, eram unidos “nos convidavam para festas e sempre compartilhavam algo, eram solidários todos se davam bem passávamos noites de festas e bebíamos só chicha, era bom demais;”

Muitos paraguaios residiam próximos ao córrego Jaguapiru e aguardavam a demarcação da reserva, quando o SPI chegou, começou a mudar a vida na reserva; disse que foi um jovem muito rebelde e mudou depois de apanhar muito da vida, e que causou muita preocupação aos seus pais, pois era impaciente, nervoso, em seu primeiro dia de aula no pré escolar não aceitou o castigo da professora e fugiu da sala de aula com os amigos, disse que apanhou muito por causa disso, mas não quis mais retornar para a escola, no entanto seu pai disse que deveria aprender a trabalhar ou estudar, escolheu trabalhar e não frequentou a escola, não aprendeu a assinar o nome, segundo ele graças a Deus tornou um homem sábio, hoje agradece, porque se não tivesse conhecido o evangelho, talvez pela sua ignorância, não estaria mais aqui;

Recorda que seu avó foi assassinado, devido algumas dividas que tinha,, que ocasionou em desavenças, e antes de partir pediu para chamar todos os netos para dar a última benção, sua tia morava em frente ao quartel e a visitavam sempre, havia muita guavira no local, recorda muito bem dos fundadores da reserva, de famílias tradicionais das três etnias, após a chegada do SPI que passou a vir outras famílias, para a reserva não só indígenas, mas brancos, paraguaios e ai começou a divisão de lotes, antes podiam morar em qualquer lugar era só escolher e mudar, disse que morou em vários lugares, hoje há parentes residindo nos lugares que passou, disse que SPI usava os índio para vender madeira, “dizia que era para o nosso benefício mais nunca aparecia nada”, lembrou que Ireno foi um dos melhores capitão que a aldeia tinha era kaiowá e liderava toda a reserva, todos o respeitavam terena guarani kaiowá, não havia discórdia, tinha o jeito de orientar a comunidade, não havia problemas para eleger o capitão; Ireno andava a cavalo pela aldeia, dava seus conselhos e retornavam para sua casa, de acordo com relatos as moradias eram muitos longe uma das outras, não tinha violência a partir da década de 60 á 70 as coisas foram mudando o capitão tinha que demarcar lotes para não ter briga; Trabalhou por muito tempo, cortando madeira e ajudando a transportar para a serralheria que era do lado do córrego jaguapiru, “eu mesmo ajudei, o SPI vendeu nossas madeiras diziam que iriam nos ajudar chegavam com uma autorização, tirei muitas árvores do meu lote” relatou que viviam livres antes, sem preocupação, na paz, porque as pessoas mais velhas tinham conhecimento, haviam parteiras, benzedeiras, faziam remédios caseiros cuidavam um do outro, porque a missão era longe e só havia um carro do SPI para transportar se dependesse do transporte, poderia perder a vida, havia apenas dois bois no posto e uma carretinha, que era usada pela comunidade para transportar alimentos, algo da colheita, madeiras mais como demoravam muito tinha que ter paciência,

relatou que muita coisa mudou na reserva, que nem há como comparar a vida de agora com a de antes, porque era tudo maravilhoso, apesar das condições, hoje muitas das tradições estão se perdendo, mas não há justificativas para isso, pois a vida é diferente agora, a realidade é outra, os jovens preferem o caminho mais fácil ‘e tudo é a gente que faz, você deixa algo de lado se desejar, as escolhas somos nós quem fazemos as vezes para melhor, as vezes para pior”, disse que os pais devem ensinar os filhos o que precisam saber, mais isso não garante que ele irá seguir seus ensinamentos, pode querer experimentar outras coisas, viver outro mundo, para depois decidir, as pessoas falam algo sobre a reserva sem saber a verdadeira história, criam discórdia e gerando conflitos entre indígenas, mas antes não era assim, hoje a FUNAI quer tirar os brancos, os terenas da reserva, mas desconhecem a verdadeira história, pois o antigo chefe do posto eram branco e havia muito deles morando aqui, quando eles chegaram já haviam indígenas residindo no meio das matas, na reservas a dentro; Relatou que talvez não estará aqui, alguns anos me agradeceu por estar ouvindo ele nesse momento, pois poderei relatar a verdadeira história da reserva, para futuramente seus netos e bisnetos saber, mencionou que cada jovem compreende o mundo a partir da realidade em que se vive, se ninguém contar a eles as histórias, não saberão, e muito menos se importarão em saber; A escola é uma ferramenta importante, conta com orgulho a sua história de vida e disse que não foi um bom jovem, por não ouvir os conselhos de seus pais, pois sua ignorância não deixava compreender a forma dos ensinamentos dos pais, que queria apenas o seu bem, afirmou “que bom que acordei a tempo não se pode mudar o que foi construído há muito tempo, por exemplo quando chegou os paraguaios como José Aquino, Teófilo, se instalaram na casa de seus avós e assim conheceram as suas irmãs e se casaram, desta forma que se começou a mistura entre os índios, da mesma forma aconteceu com as outras etnias, porque as famílias se conheciam se davam bem e os pais faziam os casamentos, agora isso se intensificou, principalmente entre as etnias, gerando uma mistura étnica; não há como separar uma comunidade que convivem juntas há muito tempo, antes mesmo da demarcação da reserva Indígena.


Entrevista realizada pela professora Egizele Mariano da Silva-2018 com Senhor Antônio da Silva.


0 visualização0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

留言


bottom of page