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Foto do escritorEgizele Mariano

Avatikyry(Festa do Milho)

Atualizado: 21 de abr. de 2021

ALDEIA PANAMBIZINHO E O AVATIKYRY(FESTA DO MILHO)


Práticas Kaiowá:


De acordo com os anciãos kaiowá e guarani, o milho e todos os alimentos foram criados pela divindade chamada Jakairá, o mesmo garante a boa produção do milho saboró e demais produtos agrícolas como a mandioca, a batata-doce e a banana.

A origem milho sagrado, também chamado de saboró, é uma parte da vestimenta usada na cintura do jakaira, o ku’akuaha, do qual uma pequena parte se transformou, de maneira mágica, na semente do milho branco que, através da reza, germina e cresce. Deste milho também se faz a chicha, o caldo do corpo de Jakairá, bebida ritual consumida nas festas. De acordo com o mito kaiowá da criação, a primeira roça foi plantada por Jakaira. No dia seguinte, ele avisou Pa’i Tambeju que podia ir colher o milho. Este ordenou à sua filha que fosse buscar o milho, mas esta questionou, dizendo que não poderia estar maduro, uma vez que havia sido plantado no dia anterior. Jakaira voltou para dizer ao Pa’i Tambeju que a roça estava pronta e este avisou sua mulher para que fosse colher o produto, mas, quando lá chegou, percebeu que o milho não estava maduro. Conforme a explicação do xamã, isso foi um castigo do Jakaira, pela desobediência e é por isso que o milho demora cinco meses para ficar pronto para a colheita.(JOÃO, Izaque. Jerosy Puku. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 06, página 15 - 17, 2013.)


GUACHIRE OU CHICHA: Ocorre quando há um acontecimento social, que festeja uma caça bem sucedida ou colheita, um aniversário, ou a chegada de uma visita; É uma festa, na qual é servida uma bebida de milho e dança-se o Guahu e o Kotyhu em uma roda.

Kotyhu: são cantos de divertimentos e brincadeiras, melodias curtas e improvisadas, através dos cantos, pode cumprimentar, enviar mensagens ao pretendente amoroso, elogiar ou criticar algum presente o qual pode responder com outro kotyhu.

Guahu: são cantos solenes, alguns são exclusivos dos homens outros das mulheres, há os que pertencem a ambos, possui narrativa regular e curta, tem um animal como protagonista; Faz parte da cerimônia do milho o: Avatikyry,


BATISMO DOS ALIMENTOS: Os alimentos são abençoados antes de serem consumidos, para fazer bem ao corpo, as mulheres realizam o ritual proferem a reza, antes e durante a colheita, e faz a entrega dos frutos ao rezador ou rezadora que os abençoa, batiza-se geralmente o milho, a batata doce, a erva- mate e os alimentos cultivados tradicionalmente em suas roças, um ritual atualmente pouco praticado entre os kaiowá.




Segundo consta no artigo de Izaque João A divindade denominada jakaira, com sua sabedoria, criou o milho branco e os demais produtos agrícolas. No local que o jakaira escolheu para realizar a sua atividade agrícola, não foi necessário o uso de força física, pois o trabalho foi efetuado na base de reza. O milho saboró é uma planta retirada de uma das partes da vestimenta usada na cintura do jakaira, o ku’akuaha, do qual uma pequena parte se transformou, de maneira mágica, na semente do milho branco que, através da reza, germinou. Isso significa que, para o Kaiowá, o milho saboró, desde o princípio de sua criação, precisa seguir as mesmas etapas de trabalho, desde seu cultivo até a colheita, instituídas pelo jakaira: deve-se cantar para plantar, para ser protegido das pragas e, por último, na colheita, quando ainda está verde (avati kyry), para que possa ser consumido sem riscos para a saúde. Depois da colheita, o milho ainda precisa passar pelo jehovasa, quer dizer, uma “benção” realizada pelo xamã, para depois ser distribuído.

Essas regras precisam ser efetuadas com o objetivo de purificar o milho, para que se torne um alimento especial, extremamente importante para todas as divindades. Os alimentos derivados de milho podem ser consumidos em todas as idades, mas o milho tiguéra ou avati are (aquele que nasce depois da colheita) não pode ser consumido pelas pessoas jovens de ambos os sexos, devido ao extremo risco para a reprodução humana, pois podem gerar filhos que não sobrevivem (ta’ýre ndahekói). Portanto, este milho só pode ser consumido pelas pessoas de terceira idade.( JOÃO, Izaque. Jerosy Puku. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 06, página 15 - 17, 2013.






O RITUAL DO AVATIKYRY


Vocabulário kaiowá:

avaty : milho,

avatiky: milho novo

avatikyry: sumo do milho novo e festa do milho

Jerosy: nome de reza proferida na primeira noite de festa, nome dado a todo o ritual.

Jakaira: nome do ser que protege todo o milho

Patisa: nome do termo batismo na língua kaiowá.


A celebração da colheita do Milho é realizada desde a década de 1980 de janeiro a março na aldeia Panambizinho, as primeiras famílias a organizar foram os Aquino, com a demarcação em 2004, passou a ser realizada por outras famílias em suas casas de rezas ou nos galpões deixados pelos antigos moradores.




AVATIKIRY NA COMUNIDADE KAIOWÁ:


Em cada comunidade só pode ocorrer uma festa do milho por ano, a reza só pode ser feita uma vez, segue a descrição dos procedimentos da festa ocorrida no mês de fevereiro no ano de 1990 e 1991 na aldeia Panambizinho:


O convite para festa do Milho é realizado pelo dono da bebida do milho servido na festa, o mesmo providencia os mantimentos e demais bens materiais para hospedar e alimentar as visitas, o rezador fica responsável pela longa reza, jerosy puku, e pelo batismo do milho, a festa ocorre na casa grande,(ogusu), onde mora o rezador e sua esposa, nesses dias a casa se transforma na catedral do milho.

A festa dura três dias, mas os preparativos começam no tempo do plantio do milho e vai até a colheita em torno de 4 meses, umas das primeiras tarefas é convidar as comunidades vizinhas, o convite deve ser feito pessoalmente pelo dono da festa, participam da festa a comunidade local, famílias amigas de aldeias vizinhas, na atualidade o convite da festa é estendido as autoridades locais e universidades;

O milho branco, chamado de milho saboró, não deve ser plantado de qualquer maneira, deve ser plantado em outubro, depois da primeira chuva, após a lua cheia, em cada cova deve ser colocado três grãos grandes, ou até cinco pequenos, antes do plantio as mulheres devem cantar para esfriar a terra, o cuidado e colheita são tarefas importantes realizadas pelas mulheres dentre os 120 dias, enquanto o milho cresce as mulheres, vão de vez em quando para roça, rezar a reza do cuidado para manter a planta fora do alcance de doenças e tristezas e na época de floração rezam para dar alegria, e garantir a reprodução e a formação das espigas.


Etapas que ocorrem durante o período da colheita:


· colhem o milho e leva ao rezador, que o abençoa,

· enquanto o rezador profere a benção as mulheres cantam confirmando as palavras do líder espiritual, elas cantam diante das espigas de milho postas em fileira frente ao altar: mba’e marãngatu, na casa de reza,

· preparam os petrechos do ritual no início da semana da festa;

· cortam os bastõezinhos de cedro de um metro e meio de altura com ele é preparado o caminho de reza que divide ao meio, de leste a oeste o espaço do ritual que se abre em frente a casa de reza o caminho deve estar pronto;

· na véspera da festa os bastões são pintados com urucum, pois eles agradam o broto de milho;

· os homens limpam as mbaraka, as cruzes,

· as mulheres cuidam das roupas brancas de algodão cru, de seus esposos, irmãos e filhos, cuidam também dos enfeites da cabeça da cinta do peito, dos punhos e dos tornozelos.

· As mulheres preparam a bebida do milho,

· na terça-feira de madrugada, elas vão ao milharal cantando em kaiowá para animar o milho primordial.

· Elas cantam o tempo da madurez do milho entoado nas colheitas anteriores,

· cortam a espigas de milho e levam até a casa do rezador que os abençoa

· os grãos de milho são cortados das espigas e postos para ferver, durante o cozimento as mulheres mexem a panela com uma espátula, quando os grãos já estão no ponto são esfriados;

· no passado eram mastigados por algumas mulheres coados e colocados para repousar em coxos e tambores cobertos com panos ou com folhas de bananeiras a saliva deixava bebida doce, por constrangimento deixaram esse costumes e passaram a adoçar com açúcar

· as mulheres ficam em silêncio diante dos barris e cochos de chicha,

· a batata e mandioca são trazidas da roça para casa,

· compra se arroz óleo, tempero para galinhada que será servida no sábado de manhã ,

· panelas grandes são organizadas, não pode faltar erva-mate para o chimarrão,

· improvisam barracas atrás da casa de reza;


A festa acontece três dias, ou seja três noites, iniciando na sexta- feira ocorrendo a ação sagrada, no sábado e domingo ocorre o social e lúdico tomando conta do espaço.

As 16hs do primeiro dia tudo fica preparado o fogo arde no chão fora da casa de reza no meio das barracas as mulheres escaladas para a cozinha matam frangos, cozinham mandioca carregam água e cuidam do fogo, dentro da casa de reza no canto ficam três barris grandes e um recipiente menor cheios de chicha as camas são improvisadas no chão e sob elas penduram muitas redes, há um espaço só para os cantores e aqueles que assistirão o ritual, as cruzes e varinhas e os chocalhos reluzem no altar, os homens pintam o rosto de urucum vestem suas roupas saiote, o pequeno poncho feito de algodão cru, colocam seus enfeites coloridos e bordados ou feitos de penugem de certos pássaros, e colocam o enfeite da cintura, enfeite da cabeça enfeite da mão, as mulheres também pintam seus rostos de vermelho, vestem suas roupas brancas bordadas, enfeitadas com tinta de urucum colocam seus colares de sementes enfeites na cabeça e pegam seus bastões feito de taquara, elas não participam da parte solene do ritual.

Inicia a cerimônia inventam caminhos entre as plantações, há gritos por todos os lados muita correria, som do maraca, (chocalho ou mbaraka)a animação toma conta, a festa se inicia cantam, durante a cerimônia, as visitas e mulheres acompanham de longe até o momento da sua dança, durante a reza proferem palavras sagradas, e caminham por todos os lados, vários cantos são entoados o Jerusy puku é uma reza longa, de canto e dança, faz parte das principais festas kaiowá é uma reza de tempo quente, é cantada de janeiro a março, durante a reza escuta e sente as histórias de sua origem, seu movimento é simples uma caminhada que dura em torno de dez horas ao redor do pilar central da casa de reza ao pé do pilar há uma lata de chicha, muitas canções são cantadas, mulheres e homens cantam e dançam cada grupo em seu momento, até chegar a hora do Jehovasa( benção) é um momento de descobrir o rosto da bebida do milho novo, é o momento de encontrar cara a cara com o protetor do corpo do dono do milho, Jakaira, o olhar é o principal da cerimônia, quem abençoa ou batiza vê, portanto ocorre os procedimentos da cerimônia até a benção ser feita, encerrando a festa do Avatikyry.


Para o povo Kaiowá o milho branco é uma planta deixada por Deus para seu povo, acreditam que se o milho desaparecer os kaiowá desaparecerão também, por isso, ao mudar de lugar levam consigo as sementes para um novo plantio.



Material de pesquisa, Panambizinho:Lugar de cantos danças, rezas e rituais kaiowá,Graciela Chamorro/São Leopoldo:karywa2017, JOÃO, Izaque. Jerosy Puku. PISEAGRAMA, Belo Horizonte, número 06, página 15 - 17, 2013. e adaptação do texto:Egizele mariano da silva/2021.
















imagem da internet, foto: Chicha feita de milho.

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