BIGUÁ E SEUS IDEAIS:
A TERRA
Com relação a terra, na Reserva Indígena, todo indígena tinham seu lote, alguns possuíam mais, outros menos, Biguá dizia que era uma situação difícil de controlar, pois no início os lotes eram divididos e cada um recebia o seu, depois alguns foram passando aos filhos que casavam, outros foram vendendo, resultando em indígena sem terra, segundo Biguá os capitães anteriores deveriam ter impedido a divisão de lotes e de passar a terra para outros, quando assumiram a capitania Biguá e Carlito atenderam mais de trezentas e sessenta famílias, que se encontravam desamparadas, eram pessoas que não tinham onde morar, receberam terra, assim passaram a proibir a venda de terras, mesmo entre indígenas para evitar que uns se apossassem e passasse a ter mais que o outro, naquele período havia uma grande diferença entre os indígenas, alguns eram grandes produtores de soja, enquanto outros só tinham uma rocinha, que cultivava sozinho tentando sobreviver, agrônomos da Universidade passaram a orientar a comunidade com relação ao plantio e cuidado com a terra, surgindo projetos de cultivo.
ALDEIA SEM RECURSOS
em 1991, não havia energia elétrica na Reserva, somente no posto, a noite a reserva ficava no escuro e as coisas tornavam mais perigosas, para diversão havia apenas um campinho de futebol na aldeia bororó e a Chicha, uma festa indígena Kaiowá e Guarani, que todos os sábados aconteciam em um determinado lugar da aldeia.
Não havia telefone, nem mesmo para emergência, as vezes no meio da noite precisavam de ajuda, quando alguém passava mal, a situação era desesperadora, sem transporte e quando conseguia um, o doente já havia falecido, o capitão solicitou ajuda, luz elétrica, segurança ao Governador.
AS TRADIÇÕES
Antes as rezas passavam a noite, os cultos eram até as nove horas, passando das dez, já era perigoso andar pela Reserva, como capitães não interfeririam na escolha de religiões, cada um seguia o que queria, mais quanto as tradições culturais, buscavam revitalizar a tradição do povo, trouxeram até mesmo um Ñhanderu do Paraguai, para rezar na reserva e muitos indígenas passaram a praticar as rezas novamente, surgindo alguns conflitos com os pentecostais e presbiterianos, os capitães, tiveram que ir buscar os rezadores, porque a prática de rituais e rezas, estavam se perdendo, com a volta dessas práticas construíram a Oga-Pysy, um ponto de reza, hoje chamada de casa de Reza, Biguá dizia que como antigamente, a casa de reza é um lugar de oração do índio, com objetivo de tirar o mal que havia na reserva, acreditavam que seria uma solução aos problemas de suicídios, na casa de reza também realizavam cerimônias, como os casamentos tradicionais.
A MORTE
Biguá relata que os cemitérios eram importantes para mostrar como o indígena encarava a morte, tinham o costume de colocar os pertence do falecido como garrafa de cachaça, um sapatinho, um lenço, dinheiro, tudo que gostava do lado da cova, para que o mesmo não voltasse para buscar, se o objeto não fosse colocado lá a alma voltaria para buscar, pois o falecido necessitaria de suas coisas para seguir a viagem que faria, após a morte.
Biguá era católico, sempre se deslocava para a cidade para rezar, mas quando era preciso fazia suas rezas tradicionais na aldeia, ensinava para seus filhos tanto a religião católica quanto a tradicional, mais dizia que eles que escolheriam qual seguir, quando alguém da sua família ficava doente, ele mesmo rezava.
CASAMENTOS
Os casamentos não eram mais como antes, na atuação de Biguá, aconteciam no posto da Funai, os noivos eram apresentados juntamente com os familiares e faziam o registro e todos assinavam, validando o casamento, aconteciam muitos casamentos fora da aldeia, depois de casados retornavam para a aldeia, as vezes o índio trazia a esposa não indígena para a aldeia e raramente a indígena trazia o esposo não índio, naquele período a comunidade aceitava todos se davam muito bem.
Os indígenas casavam cedo e logo já tinham muitos filhos, antigamente os mais velhos passavam umas plantas medicinais para evitar que tivessem muitos filhos, havia uma buchinha que um remédio do mato, e uma farinha feita de erva que dava nos brejos, que era colhida a fruta, colocada para secar no sol depois de bem seca virava farinha e a mulher tomava não tinha remédio melhor, mas com o tempo não se encontrou mais, e quem não queria ter mais filho tinha que fazer cirurgia.
VIOLÊNCIA
A capitania possuía uma cadeia dentro da aldeia e para prender tinha uma equipe interna, o grande problema era a bebida alcóolica, ocorriam muitas brigas provocando uma confusão atrás da outra e a função do capitão era proteger e cuidar, evitando novas brigas, a bebida estava se tornando um vício causando muitos problemas, além de outros vícios, dos brancos que os indígenas estavam aderindo como o cigarro, segundo Biguá a maconha ainda não havia chegado na reserva e a rapaziada nem sabia o que era, em sua fala frisou “ e tomara que não saiba nunca”. Mas infelizmente chegou juntamente com outras drogas.
Biguá e Carlito em suas atuações como capitães diziam ‘Revivendo a tradição vamos encontrar nosso caminho, o caminho do Índio”
Biguá e Carlito
Considerações Finais
Analisando a vida da comunidade na atuação de Biguá como Capitão, percebe-se que o alcoolismo estava ao poucos adentrando a reserva, devido a situação em que se encontrava naquele momento, a situação era precária, o indígena não havia se adaptado ao confinamento e a outros modos de vida, o indígena não tinha voz, era apenas assuntos das mídias, o índio sem condições e perspectiva de vida, acreditava que não tinha mais condições de continuar vivendo, diante disso pensava que o suicídio era a solução, e na atualidade em 2022 a realidade ainda é problemática, pois não há apenas o uso do álcool, como também há venda de drogas licitas e ilícitas dentro da Reserva gerando muitos problemas e desafios aos capitães atuais, o objetivo de Biguá de unir a comunidade é evidenciada hoje, pois os problemas não atingem apenas uma etnia, toda a comunidade indígena residente na Reserva Indígena sofre, e com isso une se forças para adquirir recursos, para reivindicações e para combater a violência, houve grandes avanços, nas quais não se pode deixar de frisar, como na Educação e Saúde, há muitos profissionais indígenas atuando na própria reserva, em Escolas Indígenas e postos de saúde, há oportunidades de Estudos em universidades, oportunidades para o indígena que almeja ter um futuro melhor.
Egizele Mariano da Silva.
Fonte/informações, Jornal O Progresso, reportagens Jornalísticas datadas em 1978 á 1992-Dourados -MS, Livro o Canto de Morte Kaiowá História Oral de Vida, José Carlos Sebe Bom Meihy; postagem e organização do texto: Egizele Mariano da Silva.Janeiro/2022
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