BOIA FRIA INDÍGENA
Com o cultivo da lavoura de soja na Reserva Indígena de Dourados, na década de 90, o cultivo das produções nas roças ficou insuficiente para a sobrevivência da comunidade indígena, levando o indígena a procurar trabalho nas fazendas de soja ou nas destilarias de álcool, surgindo a figura do boia fria indígena.
Quando o indígena saia em busca de trabalho, nas fazendas ocorria vários rompimentos, como: a perda cultural, pois rompe a continuidade da mesma, deixando suas tradições como: a dança, o canto, os rituais, permanecendo de dois a três meses na fazenda, fora da comunidade, seu convívio passava a ser apenas com o grupo de trabalho, longe da família, do convívio com os capitães, com os caciques, com a sua comunidade, passando a ter contato com a sociedade não indígena, na qual lhe oferecia algo diferente de sua cultura, além de enfrentar a discriminação por ser indígena, nas fazendas se percebia a diferença existente, o boia fria branco tinha casa de alvenaria, banheiro, luz e água corrente, a 100 metros o boia fria indígena, ficava acampado sob lonas, sem luz, sem conforto, sem água, sem nenhuma higiene.
Até que se cumprisse o contrato de trabalho, muitas coisas aconteciam na reserva, como falecimento de um parente, algum familiar adoecia, o aumento populacional da comunidade, conflitos pelos direitos indígenas, a falta de espaço, o confinamento na reserva e desestrutura familiar, as vezes a mulher já estava vivendo com outro, pois passavam muito tempo sem nenhuma notícia do marido, e a família sozinha sem nenhuma assistência, a mulher se ajuntava com outro, ou ocorriam desentendimentos entre o casal porque o marido retornava sem nenhum recurso, na fazenda o indígena utilizava o recurso para a sua própria sobrevivência, comprando alimentos, roupas e calçados para realizar o trabalho, enfim voltava sem dinheiro, até mesmo endividado, desta forma voltava para a fazenda novamente, porque precisava de dinheiro e acertar as contas com o patrão.
Muitos Jovens indígenas deixaram suas reservas, sua família, suas tradições, sua vida escolar para trabalhar como boia fria, um trabalho mal remunerado, no início apenas um contrato, sem carteira assinada, tudo em busca da sustentabilidade de sua família, muitas destilarias buscavam a mão de obra indígena, por trabalharem sem reclamar, aceitavam valores mínimos por seu trabalho, além de ter força e resistência física.
Fonte; Coleção de recortes de jornal, sobre a política indigenista/coleção,CIMI-MS, Jornal O Progresso/1991, Edilson Martins, texto: Egizele Mariano da Silva/Janeiro/2022.
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