A Tradição do Tembetá
Paulito estava preocupado com o fim da tradição do Tembetá, pois a sua aldeia era a única que realizava a cerimônia, portanto o risco de acabar era grande, pois havia uma série de fatores que dificultariam a realização como: a discriminação, os problemas de ordem sociais, a cerimônia estava tendo pouca aceitação, até mesmo pelos próprios indígenas, segundo o Capitão Nelson Concianza, relatou que a despesa era alta, sendo um dos principais motivos que levavam a comunidade a não realizar o ritual, nas aldeia próximas já não se encontravam nada nativos e assim acabavam improvisando com outros materiais, a resina usada pelos antepassados, era tirada de uma árvore chamada pau-vidro, não era mais encontrada e para o Tembetá, usavam palitos de bambu, dente de pentes, há também os não indígenas que queriam entrar na aldeia para assistir o ritual que era extremamente proibido.
Quando os não indígenas foram chegando e ocupando o território indígena dos Kaiowá, a festa do Kunumi pepy, foi deixando de ser celebrada em outras aldeias, até 1970, após, manteve-se somente na aldeia Panambizinho, ocorrendo em 1989 e 1993, vinte cinco anos após a realização do último Kunumi pepy no Panambizinho, os adolescentes deixavam a infância sem passar pelo ritual, no entanto já havia outras influências que as impediam de realizar, como: as crianças passaram a frequentar a escola tendo outras rotinas diárias, a produção das lavouras não eram suficientes para realização de um grande evento, e com o falecimento dos celebradores, a perda da casa de reza, a perda dos costumes e a falta do uso do tembetá, pois segundo a tradição Kaiowá o Kunumi pepy, deveria ser passado para o filho ou neto daquele que celebrava o ritual, A cerimônia iniciou com Pa´i Chiquito Pedro, fundador da aldeia, chegou na região por volta de 1910 passando para Paulito, que faleceu em setembro de 2002 era um dos mais respeitados líderes indígenas, por sua luta pela preservação da cultura e do povo Indígena Guarani Kaiowá, soube transmitir ás gerações que lhe seguiam a cultura de seus antepassados.
Em 2004 a aldeia Panambizinho recebeu de volta parte de seu território, 1,280 hectares, por cinquenta anos a terra permaneceu com os produtores rurais, sofrendo desmatamento, ocorrendo a perda de vários elementos importantes para a realização das tradições culturais do Guarani Kaiowá, não encontraram mais a árvores na qual retiravam a resina para a confecção do tembetá, não havia o cedro para fazer o apyka, nem matéria prima para as vestimentas e adornos usados durante as festas, sem condições de cultivar as roças de milho saboro para a chicha, teriam que percorrer quilômetros para encontrar materiais em fazendas, mais teriam que ter autorização para entrar e retirá-las. Em 2009, muitas pessoas da comunidade de Panambizinho relataram que não acreditavam na possibilidade da realização do ritual do tembetá novamente, pois já não havia um rezador com plenos conhecimentos sobre a cerimônia, mesmo porque, para realizar o celebrador também teria que ter o tembetá, os mais velhos questionavam a perda das tradições, e falavam da importância da celebração na vida dos Kaiowá, pois livrava dos males da terra, sem o tembetá muitas coisas ruins estavam acontecendo, Em 2000 Paulito com 116 anos lamentou, não ter deixado seguidor, mas disse que tentou ensinar alguém para dar continuidade ao seu trabalho como cacique, e ao que aprendeu com o seu pai Antonio Aquino, Valdomiro Aquino Neto de Paulito tinha esperança que o avô ainda conseguisse repassar os ensinamentos para alguém, já Nelson Consianza Capitão da Aldeia temia o fim da tradição do Tembetá, acreditando na impossibilidade da realização da festa, as pessoas passaram a ter seus afazeres e teriam que se desligar se concentrando apenas na cerimônia por um determinado tempo, portanto o ritual deixou de ser realizado na aldeia Panambizinho.
Panambizinho: lugar de cantos, Danças, rezas e rituais Kaiowá, Graciela Chamorro/2017. Jornal O Progresso/1993,texto:Egizele Mariano da Silva/janeiro/2022
cacique Paulito Aquino com mais de 100a nos, foto: Guto Pascoal
Cacique Paulito em 1993
cacique Paulito com 112 anos
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