Ramão Machado-Capitão da Aldeia Jagaupiru-Reserva Indígena de Dourados-MS
Indígena da etnia Terena, nasceu na Reserva Indígena de Dourados-MS, no dia 14 de julho de 1945, filho de Brasiliano Machado e Teodora da Silva, todos indígena, seu avô veio de fora falecendo em 1922, foi criado no orfanato da Missão Caiuá, estudou até seus doze anos, passando a trabalhar fora, a família de seus pais, de etnia terena, eram originalmente de Aquidauana, seus pais resolveram vir para a Reserva quando ainda não era demarcada, naquele tempo a comunidade viviam todos juntos agrupados, em paz, eram todos indígenas e não havia conflitos, segundo Ramão a medida que a comunidade foi crescendo surgiu a necessidade de dividir os lotes de forma igual para todos.
A comunidade indígena tinha acesso livre a cidade, devido a isso foram aparecendo novos problemas, sendo preciso criar uma organização interna, uma delas foi a escolha de uma liderança jovem, portanto a comunidade elegeu Ramão como Capitão da Aldeia Jaguapiru, no qual teve uma boa relação com a FUNAI, buscou ajuda externa, uma ação essencial naquele momento, atuou como capitão por doze anos, além de capitão era responsável em levar indígenas para o trabalho nas lavouras de cana de açúcar nas usinas de Naviraí e Região, ficava em torno de sessenta dias fora, desta forma deixava um substituto interino para cuidar da aldeia, em sua administração, buscou o desenvolvimento para a reserva, levando as solicitações e projetos a Brasília, enfrentou o problema do alcoolismo na comunidade, relatando que o álcool foi a perdição de muitos indígenas; Quando um indígena fazia algo errado, era obrigado a realizar trabalhos comunitários, seu castigo era limpar estradas e cemitérios, em 1978 os indígenas se revoltaram com a atuação de Ramão Machado e com as ações de sua polícia indígena, e denunciaram abuso de autoridade, atos violentos de espancamentos e exploração de indígenas, em 1983 a comunidade pede o afastamento do capitão, muitos indígenas foram expulsos da aldeia, por não aceitar a administração do capitão, em sua defesa Ramão relatou: “ o que fiz é o meu trabalho, pois sou autoridade aqui, não fugi e nem fugirei, estou a disposição esperando que a Funai tome providência.”
Ramão era considerado o maior fazendeiro que havia na reserva, segundo ele, era porque trabalhou com honestidade, plantava soja, milho e feijão, tinha umas vaquinhas, uns porcos e umas galinhas, atuaram como Capitão interino de Ramão, Ailton de Oliveira e Renato Souza, devido as acusações e por pressões da comunidade residente na reserva, Ramão foi afastado da capitania, ocorrendo uma eleição na aldeia Jaguapiru em 1993, para a escolha do novo líder, em 1997, volta a concorrer como capitão na aldeia Jaguapiru, vencendo a eleição, que ocorreu no dia 28/08/1997, com 523 votos, contra Getúlio que obteve 275 votos e Renato de Souza 82 votos, desta forma, teve mais um mandato de 4anos como capitão da aldeia Jaguapiru, destacando que teria um grupo de apoio que auxiliariam o seu trabalho, e suas principais propostas eram: desenvolver um projeto Agrícola na aldeia, controlar o alcoolismo e promover um desarmamento entre os índios, pois muitos indígenas estavam se apossando de armas, frisou: "Não vamos tolerar violência, queremos paz, minha meta de trabalho é de índio para índio com honestidade". atuou como capitão na década de 90 na Reserva Indígena de Dourados-MS, aldeia Jaguapiru, a única reserva na qual realizava eleições para a escolha de um capitão, nas outras aldeias o cargo era ocupado por vários caciques, um cargo criado pelo SPI, Ramão arrendou terras para fazendeiros, pertencentes a indígenas da etnia Guarani Kaiowá, ocorrendo muitos desentendimentos na comunidade, foi acusado por outras irregularidades em sua administração, como denúncias de atos de violência de sua polícia interna, sendo até mesmo preso, foi residir em Naviraí, falecendo em 2008 aos 62 anos de idade, em confronto com a Polícia local.
Referências: Coleção recortes de Jornal, sobre a política Indígenista/ Coleção CIMI-MS1978, foto, Jornal O Progresso, Canto de Morte Kaiowá, história oral de vida, José Carlos Sebe Bom Meihy, texto: Egizele Mariano da Silva,2022.
Capitão Ramão Machado/1978
Capitão Ramão Machado/1992
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