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Carlito de Oliveira

CARLITO DE OLIVEIRA: CAPITÃO DA ALDEIA BORORÓ


Carlito de Oliveira Indígena da etnia Kaiowá, residente na Reserva Indígena de Dourados Ms, aldeia Bororó, foi nomeado interinamente, por Ireno Isnardi para atuar como capitão da Aldeia Bororó, exerceu o cargo por sete anos, em sua atuação juntamente com o capitão da Aldeia Jaguapiru, Ailton de Oliveira, buscavam resolver os problemas da comunidade juntos, pois diziam que sozinhos não conseguiriam nada, um dos problemas era suicídios entre os jovens, pensando em amenizar, foram em busca dos Ñhanderús, para que resgatassem as tradições culturais, uma oração antiga, como a reza, poderia ajudar, construíram a casa de reza na aldeia Bororó, Carlito menciona que a cada sábado acontecia a chicha, uma dança de sua etnia Guarani e Kaiowá, mas destacou que o outro problema mais sério, seria o álcool, naquele período os adolescentes não conheciam as drogas, como maconha, relatou que os brancos traziam muitas coisas para a aldeia, mais que só aceitavam as boas, como capitães buscaram ter um bom relacionamento com capitães de outras aldeias indígenas de todo o Estado, na qual realizavam reuniões e levavam as reivindicações de suas aldeias, dessa forma organizavam o trabalho de forma interna e externa, internamente cada um cuidava da sua aldeia, resolviam os problemas locais, externamente analisavam os grandes problemas das nações indígenas, buscavam meios para falar com os deputados autoridades, unidos, porque sozinhos eram fracos, realizavam reuniões a cada trinta dias, os encontros eram financiados por eles, cada um levava um pouquinho de mandioca de arroz de cada aldeia; Carlito era chefe representante de todos os indígenas das aldeias do MS, seu objetivo era que o índio tivesse mais força e voz, dizia que não queriam separar os indígenas dos brancos, mas queriam os direitos indígenas fossem respeitados, não concordava com as ações dos jornalistas, que chegavam na aldeia, tiravam fotos, escreviam o que queriam sobre a reserva, deixando mais problemas, não estava satisfeito com a imprensa, que dizia que na reserva só havia violência, que o índio era bêbado que não gostava de trabalhar, Carlito mencionou que a violência acontecia, mais não, como diziam, por esse motivo a aldeia precisava estar organizada, assim criaram a polícia interna indígena, mas quando era necessário entravam em contato com a polícia Federal para ajudar.

Carlito já havia adotado, 23 crianças, muitos poderiam não entender, porque naquele tempo era difícil pegar as criança para criar, apesar de ser um costume comum entre os indígenas, que, ainda acontece muito na reserva, muitas famílias não tem recursos para criar os filhos e sempre existiu famílias carentes na reserva, na qual o pai tinha que trabalhar fora e a mãe em casa, não podiam trabalhar e a família não tinha dinheiro para criar as crianças, logo saiam para trabalhar fora, a família acabava separando, Carlito evitou que muitas crianças ficassem sem lar, criava as crianças, as vezes a família mesmo, pedia para ele criar, cuidava com muita seriedade como dizia: “porque se alguém pegar uma criança para cuidar, não pode deixar passar fome, tem que trabalhar, segue sua vida, como o velho Ireno, nunca trabalhou fora e nunca passou necessidade e nem morreu de fome”, Ireno foi o que mais pegou criança para cuidar, criou mais de cem que já haviam se formados, como ele Carlito fazia a sua parte, quando foi entrevistado criava dois meninos, houve época em que criou doze ao mesmo tempo, quando cresciam recebiam um pedaço de terra e passavam a morar perto de Carlito, assim como Ireno o criou, porque seus pais morreram cedo fazia a sua parte, e cuidavam como filho, do lado de Carlito morava um rapaz que ele criou, do outro lado tinha outro, cuidou e deu a terra para eles morarem, era um indígena com força e coragem para trabalhar e cuidar de seus problemas e das crianças, mencionou como a educação estava mudada, que antes os pais eram mais severos e que foi educado com muito rigor, quando tinha 14 a 15 anos seu pai dizia; ‘’acaba de jantar e vai para tarimba’’, e tinham que obedecer, não saiam para ir na chicha, porque era para homens de 20 a 25 anos.

Com relação ao casamento mencionou que os indígenas gostavam de casar cedo, e que pais estavam forçando mais ainda os filhos para o casamento, e os jovens, não queriam mais, casar tão cedo, ai surgiam os conflitos, muitos jovens estavam se suicidando por causa disso, além da falta de oportunidade de trabalho e escola, ficavam nas estradas, os rapazes saiam para o bar, encontravam frasco de veneno jogado nas plantações e ameaçam tomar, duas sobrinhas de Carlito encontraram um pouco, mais não tomaram, quando surgiam as briga na família, elas ameaçavam tomar o veneno, Biguá e Carlito, capitães conselheiros, conversaram calmamente com as meninas, que relataram que seus pais não deixavam elas irem no baile, após a conversa, recolheram o veneno e as meninas ficaram bem. Com o passar dos anos as coisas evoluíram na reserva, ficaram bem melhores, houve bastante progresso, os projetos estão estavam dando certo, passaram a ter muito mais colaboração, Carlito relatava que sentia pena, porque o lado bom da reserva não era mostrado pela imprensa.



Carlito foi acusado pela comunidade de várias irregularidades, ficaram revoltados, porque souberam, que um dos conselheiros de Carlito teria se envolvido em um assassinato e estava sendo por protegido, desta forma solicitaram o afastamento do capitão interino de seu cargo, no entanto Carlito renunciou, evitando maiores conflitos, desta forma Ireno Isnardi nomeou indígena Guarani Luciano Arévalo como no capitão da Aldeia Jaguapiru.


Fonte:Canto de Morte Kaiowá,José Carlos Sebe Bom Meihy,1991 Jornal O Progresso,1991/1992, texto: Egizele Mariano da Silva, Janeiro/2022.


Carlito de Oliveira




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