GUANÁ
Segundo contam os avós Terena, antigamente viviam no Êxiva, lugar conhecido pelos purutuyé como Chaco.
As tribos que falavam a língua Aruák, eram chamadas, na época em que os europeus chegaram ao Êxiva, de Guaná.
Os Espanhóis descreveram os Guaná, como uma nação que habitava o Chaco, lugar onde viviam também os Mbaya Guaicuru e os Guarani, que estabeleceram vários contatos, como também, muitas histórias de conflitos. A relação entre os Guaná e os Mbaya Guaicuru foi de aliança, muito importantes nas lutas contra tribos inimigas e contra espanhóis e portugueses uma aliança possível, por serem povos com um modo de vida diferente.
Os Guanás eram hábeis agricultores que viviam das roças próximas às suas aldeias e os Guaicuru, vivendo da caça e da pesca, controlavam vastos territórios;
Descrição dos Guanás, de acordo com documentos datado de 1847, o primeiro Diretor Geral de Índios da Província do Mato Grosso (Joaquim Alves Ferreira) :
As quatro tribos de que se compõem esta nação (Terena, Kiniquinao, Echoaladi e Laiana) pouco ou nada diferem entre si, quanto ao modo de existência; seus costumes são mansos e pacíficos e hospitaleiros; vivem reunidos em aldeias mais ou menos populosas e muitos deles se ajustam para serviços de toda espécie em diversos pontos da Província;
Sustentam-se da caça e da pesca, mas principalmente da carne de vaca e dos produtos de sua lavoura. Cultivam milho, mandioca, arroz, feijão, cana, batatas, hortaliças e igualmente todos os gêneros de agricultura do país. As suas colheitas não só chegam para seu consumo como lhes resta um excedente que vendem a dinheiro ou permutam por diversas fazendas, ferramentas, aguardente, espingardas, pólvora, chumbo e quinquilharias, gado vacum e cavalar de cuja criação se ocupam. Fiam, tecem e tingem o algodão e a lã do que fazem ótimas redes, panos, cintos e suspensórios.
As diferenças entre os Guaná e os Guaicuru facilitaram as relações de troca. Os Guaicuru aprenderam a utilizar cavalos trazidos da Europa para fazer guerra e protegiam as aldeias aliadas dos ataques dos inimigos Guarani e dos espanhóis.
Os Guaicuru forneciam para os Guaná facas e machados que eram utilizados na agricultura, já os Guaná forneciam aos Guaicuru produtos que cultivavam nas roças, roupas de algodão e cobertores, para consolidar estas alianças, os Guaná e os Guaicuru realizavam casamentos entre si.
Schimdel, um escritor europeu que passou pelo Êxiva naquela época, descreveu a vida dos Guaná:
Cultivavam roças de milho, raízes e outros frutos, ao colher um roçado, outro já estava amadurecendo e quando este estava maduro, já se plantava num terceiro, para que em todo se tivesse alimento novo nas roças e nas casas, nem sempre as relações entre os europeus, os Guaná e seus aliados foram de amizade. Houve muitos conflitos, porque os brancos queriam conquistar as terras próximas ao rio Prata, interessados no ouro e prata. Para os europeus, esses metais tornaram-se produtos muito cobiçados, porque transformavam-se em dinheiro, tornando as pessoas ricas e isso gerou muitas brigas e confrontos. Havia disputas entre os próprios europeus, lutando, portugueses contra espanhóis para dominar as regiões com riquezas minerais e havia as guerras contra as populações indígenas que procuravam resistir à conquista de seus territórios. Os espanhóis foram os primeiros a chegar. Logo depois, vieram os portugueses. Construíram vilas para morar. Trouxeram instrumentos de ferro para plantar (machados e facões), alimentos (cana-de-açúcar, manga, café) e animais diferentes (vacas, carneiros, cabritos, cachorros, galinhas e cavalos). A presença dos brancos provocou muitas mudanças na vida dos indígenas. Vieram os padres missionários, que criaram aldeias para os índios aprenderem a religião cristã e a língua dos Terena, em Miranda e Aquidauana a região do Êxiva ficava próxima das minas de metais preciosos e os colonizadores europeus disputavam esse território. Espanhóis e portugueses faziam guerras para decidir quem ficaria com essas terras. As várias tribos da região foram envolvidas por essas lutas. Para defender seu povo e suas terras, os Guaná procuraram fazer aliança com os portugueses. Já os Guarani, procuraram unir forças com os espanhóis, contra seus antigos inimigos, os Guaicuru. Durante essas guerras muitas aldeias foram destruídas. Os Guaná, vieram se deslocando acompanhando os seus aliados Mbayá-Guaicuru para o Mato Grosso do Sul, no século XVIII. Os Terena, os Kinikinau, os Laiana reconstruíram suas aldeias perto do forte Coimbra e das vilas das Serras do Albuquerque, entre os rios Paraguai e Miranda. Os Kadiwéu e outras tribos Guaicuru se estabeleceram nas redondezas da Serra de Maracaju.
Relatos anciãos Terena que saíram do Êxiva
Alguns relatos dos mais velhos, contam, porque os Terena saíram do Êxiva e como eles atravessaram o rio Paraguai:
"Meu pai cresceu lá mesmo no Êxiva. Meu pai fugiu de lá porque lá havia os índios ('kopenoti') bravos. Eles atravessaram as morrarias atrás de Porto Esperança. Na água quando nadou, amarrou um carandá seco na cintura como jangada." (Antônio Muchacho - aldeia Cachoeirinha)
"Minha avó, meu avô são do Êxiva. Eles usaram uma taquara bem grande para atravessar o rio... pelo nome 'taquaruçu' ela é conhecida pelos purutuyé. Eles trançavam com cipó (humomó) para fazer uma canoa para atravessar o rio Paraguai (huveonokaxionó - 'rio dos paraguaios'), quando vieram para a Cachoeirinha." (João Martins - 'Menootó' - aldeia Cachoeirinha) O trabalho dos Terena nas plantações foi assim lembrado: "...
Relatos dos anciãos
Quando faziam roça, não tinha enxada como as de hoje, era enxada de cerne pontudo, era um cerne de árvore que não dava para quebrar, plantavam melancia, moranga, abóbora, milho, feijão de corda. As árvores eram derrubadas com fogo... não havia ferramentas de metal para fazer esses serviços, os instrumentos de ferro são coisas recentes;
Relatos do viajante Francis Castelnau visitou a região em 1845 e escreveu que os Terena viviam mais isolados que os outros Guaná (os Kinikinaua e os Layana). "A 5 de abril visitaram o aldeamento dos terenas, índios que pertencem à mesma nação dos precedentes Guanás, mas que até aqui têm tido muitas poucas relações com os brancos. É uma nação guerreira que conserva em toda integridade os costumes de seus antepassados. O aldeamento que visitaram ficava, em linha reta, duas léguas e um terço a nordeste de Miranda... Compõem-se o aldeamento de umas cento e dez casas, unidas umas às outras. Estas formam um imenso rancho coberto de folhas de palmeira e estão dispostas em círculo, à volta de uma grande praça central. Toda a população, constituída de mil e quinhentos a mil e oitocentos habitantes, ocupava-se ativamente na preparação de uma festa.
Pesquisa: Egizele Mariano da Silva/2021
Bittencourt, Circe Maria. A história do povo Terena. / Circe Maria Bittencourt, Maria Elisa Ladeira. - Brasília : MEC, 2000. 156p
Foto:Guanás de Mato Grosso do Sul, por Hércules Florence, 1827
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