No segundo semestre de 2018, os alunos da Escola Tengatuí do 7º B, 7ºC E 8º B, do período vespertino na disciplina de Língua Portuguese, foram orientados a realizar uma conversa com os familiares, para que pudessem adquirir informações de onde vieram seus familiares ou de que forma passaram morar na reserva Indígena, além de relatar os fatos marcantes que não lhes saem da memória e descrever como era reserva, e relatar como se encontra nos dias atuais na visão dos entrevistados; A entrevista além de proporcionar o conhecimento, visava oportunizar momentos de diálogo com os pais, uma das tradições indígenas que pouco se vê na atualidade na reserva, devido aos trabalhos adquiridos por muitos pais, muitos saem de madrugada e retornam somente a noite, ou retornam a tarde e o filho se encontra na escola, nesse momento; Dentre os 100 alunos que receberam a orientação na qual seria avaliativa, 34 alunos entregaram a entrevista, sendo, 18 família da etnia Kaiowá, 9 família da etnia Terena e 7 família da etnia Guarani. Com base nas informações organizou-se o seguinte relatório:
ENTREVISTA COM FAMILIARES DA ETNIA TERENA
O aluno Miclael Reginaldo Martins entrevistou seu avô, o Senhor Izaltino Reginaldo Morales de 78 anos de idade, nasceu em 26/11/1940 da etnia Terena, morador na Aldeia Jaguapiru, contou que conheceu a sua esposa Elza Morales, em uma viagem que realizou na aldeia de Buriti e assim a trouxe para a reserva, porque a mesma sofria muito, pois onde morava não havia quase nada, nem mesmo alimentos, se sustentava apenas com coco da Bahia, relatou que aqui na reserva ele tinha um terreno grande com muitas plantações e animais de sobra, a dificuldade que passaram foi com a falta de água e dinheiro, disse que não sabia o que lhe iria acontecer, perdeu seu terreno, pois foi tomado por não indígenas, acabou ficando sem terra, sem nada, isso aconteceu porque os não indígenas não gostavam de índio, segundo o senhor Izaltino queriam que “ nós morrêssemos, até agora fico pensando e chorando muito, sobre tudo que me aconteceu e não é só eu que passei por isso muitos passaram” relatou ainda que a vida na reserva antes era muito sofrida, muitos não tinham condições, só havia matas, todas as casas na qual ele chama de abrigo eram de palha, mato ou barraca, faltava alimentos, não tinham condições de ir para a escola não tinham roupas e calçados, as mortes que ocorriam era de muito sofrimento para as famílias, povos indígenas contra povos indígenas, “Hoje eu vivo como um passarinho, hoje eu tenho o meu terreno, meus filhos me respeitam, antes ninguém respeitava o outro, hoje não acaba as drogas e bebidas alcoólicas isso prejudica a vida das pessoas causando mortes” relatou que hoje não sofre mais, agora é feliz, seus filhos estudam, passou por muitas dificuldades e espera viver mais alguns anos se assim Deus quiser.
Uma entrevista muito emocionante acredito que tenha motivado o aluno Miclael, pois teve um momento de diálogo com o avô que relatou a sua história de vida ao neto, um momento muito rico para a família, além de reflexão sobre a vida, a entrevista do aluno foi a mais completa que recebi, de acordo com os relatório solicitados, os alunos deveriam realizar a entrevista e fazer um relatório e por fim colocar a sua conclusão o que aprenderam com a atividade, portanto o aluno relatou da seguinte forma:
“Eu aprendi que não devemos perder tudo que temos, porque, antes não é como agora, e devemos respeitar os mais velhos que com eles aprendemos tudo que eles passaram. E também pelo respeito de pessoas que você pode entender pelas brigas não resolve nada e também entendi que as pessoas não tinham condições de nada, como agora, e a coisa que você recebe de pessoas bons não pode desperdiçar, aquilo antes era sagrado.” Miclael Reginaldo Martins,8ºB,2018.
O aluno desenvolveu a atividade solicitada e acredito, que passou a valorizar ainda mais seu avô, através da história ouvida, isso nos motiva quanto professores, pois é esse o objetivo sensibilizarmos os alunos sobre problemas que muitas famílias passaram, que muitos não tem noção de como ocorreram, cada família possui uma histórias de vida; Segundo o relatório da entrevista da aluna Fabiane Ferreira 7ºC, com sua mãe: Luzinete Ferreira Machado, 40 anos , nasceu no dia 03/06/1978 da etnia Terena, seus avós já residiam na aldeia, e as matas eram fechadas as estradas eram trieiros, relatou que não compreende o motivo de tantas mortes de parentes, resultantes dos conflitos por terra, que as vezes o branco mata o índio, e a justiça não é feita, recordou que antes na reserva podiam deixar a porta aberta durante a noite que nada acontecia, havia respeito, principalmente ao cacique da aldeia e nos dias de hoje não se pode sair sozinhos, a comunidade não respeita um ao outro.
O aluno Adriano Hilton Machado do 8ºB, realizou a entrevista com seu avô Fermiano Machado, etnia Terena, residente na aldeia Jaguapiru, relatou que devido a idade ir chegando seu avô, não quis dizer de onde seus pais e avós vieram, acredita que ele não se lembra muito bem, mas recorda que havia muito mato na reserva, o ar era mais saudável, podiam sentir o cheiro das árvores, agora conta também que há muita violência em cada canto, muitas drogas e jovens que não escuta seus pais, só querem saber de sair, antigamente não era assim, relatou que os pais ficavam no pé dos filhos, diferente de agora que os filhos crescem largados e sozinhos.
Analisando a entrevista realizada pela aluna Beatriz Fernandes, 8ºB, com a sua avó Analia da Silva Fernandes de 67 anos, nascida em 25/05/1945 da etnia terena, residente na aldeia Jaguapiru, sua avó destacou que as casas eram de barro e não haviam violências e devido o esposo cultivar roças nunca lhes faltaram alimentos, no final a aluna coloca suas considerações, reconhecendo o exemplo de vida da avó. De acordo com os relatos das famílias recordam se de como era a reserva quando não havia superpopulação, não havia desmatamento, são memórias do início da criação da reserva, quando as famílias ainda se deslocavam aos poucos, e com o passar dos anos as famílias foram chegando com mais frequência, ocorrendo a necessidade de cortar as árvores para construção de casas ou espaços para produção, como muitos familiares vieram de outros lugares, seus parentes vieram depois, alguns em busca de uma vida melhor, frisando que a reserva era bem vista e recebia muitos benefícios, além de como constam nos relatórios das entrevista dos alunos, o acesso a cidade era mais fácil.
No entanto o trabalho de entrevista realizado pelos alunos foi satisfatório, poderia ser melhor ou mais aprofundado se todos os alunos se comprometessem com a atividade, mas o objetivo de diálogo e conhecimento da realidade na qual seus avós e pais passaram é de suma importância para a sua identidade pessoal, acredito que os alunos que realizaram a entrevista, passaram a ter outras reflexões, como dar valor família, e desta forma se situam melhor compreendendo a sua realidade, percebendo que antes a vida na reserva era melhor, sem as tecnologias e outros recursos, havia paz e harmonia entre uma comunidade solidária, em todos os relatos dos entrevistados destacam a realidade atual como violenta, com muitas drogas e alcoolismo, principalmente envolvendo os jovens, uma situação decorrente do processo de colonização que já existia, mas era controlada, por ter famílias unidas, agora a vida na reserva é totalmente diferente da vida de povos indígenas tradicionais, cada um vive a sua vida em seus lotes em sua terra demarcada, em uma terra demarcada que não se tem lei, na qual, os direitos não são respeitados, uma terra com líderes que não tem autoridade, nem mesmo saber, como antes era necessário, para assumir a liderança ou ser um cacique, hoje nossos jovens sofrem, e buscam meios de vida nas drogas, os pais não sabem o que fazer e isso vem a refletir na vida escolar, um aluno que não tem amor em casa, que não tem um pai, uma mãe para lhe relatar uma história ou lhe aconselhar, não ouvirá o professor tão pouco aprenderá algo; mas o nosso trabalho quanto profissional da educação é criar meios para que o aluno queira aprender, as vezes não alcançaremos os 100 alunos mais de 37, se alcançarmos 10 já é um grande avanço.
Considerações finais: Com base na leitura das entrevistas da etnia Kaiowá, Guarani e Terena foi possível perceber que muitas famílias recordam como era a vida na Reserva antes e se entristecem ao vê la hoje, e a situação de muitas famílias que sofrem com as drogas presente na comunidade, um tempo que apesar da necessidade que passavam era um tempo bom, eram felizes as preocupações não eram as mesmas, uma atividade que despertou reflexões aos alunos que tiveram a oportunidade de realizar.
Organização do relatório:Egizele Mariano da Silva/2018 .
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